DOMINGO X DO TEMPO COMUM Ano A (8.6.2008)
“Não são os que têm saúde que precisam de médico,
mas sim os doentes.”
Mt 9, 12
Da minha adolescência televisiva ficou gravada a memória de uma série da BBC sobre um médico de província que andava pela imensa região que lhe estava confiada a visitar e cuidar dos seus doentes. Cheio de uma sabedoria humilde, mais do que os (poucos) medicamentos que receitava, a sua arte era a de criar relações saudáveis, escutar confidências, espalhar um especial gosto pela vida, ajudar a encontrar soluções para o que parecia impossível. Era curta a distinção entre “doente” e “médico” e, quantas vezes, o doente encontrava dentro de si o remédio que precisava, ou médico se descobria também curado pelo doente!
“Misturado” com os doentes
Da minha adolescência televisiva ficou gravada a memória de uma série da BBC sobre um médico de província que andava pela imensa região que lhe estava confiada a visitar e cuidar dos seus doentes. Cheio de uma sabedoria humilde, mais do que os (poucos) medicamentos que receitava, a sua arte era a de criar relações saudáveis, escutar confidências, espalhar um especial gosto pela vida, ajudar a encontrar soluções para o que parecia impossível. Era curta a distinção entre “doente” e “médico” e, quantas vezes, o doente encontrava dentro de si o remédio que precisava, ou médico se descobria também curado pelo doente!
Não é assim o ofício de “médico”, que Jesus assume numa refeição em casa de Mateus, quando lhe apontam o perigo de se “misturar” com os pecadores? Quem não sentiu já a diferença entre um médico que nos olha nos olhos, escuta, faz sua a nossa dor, nos ajuda a rir no meio da aflição, e se faz nosso irmão, e aquele para quem parecemos mais um “bacilo” estranho dentro de um tubo de ensaio, diagnostica sem ouvir, sabe tudo sem perguntar, e burocraticamente nos despacha porque tem coisas mais importantes a fazer? Acredito que serão cada vez menos mas, em tantos campos da vida, permanece esta lógica da “não-mistura”, do “medo” de quem é diferente ou pensa diferente, da arrogância que distancia. Não é verdade que “o pior doente é aquele que julga que não está doente”?
Uma das novidades de Jesus é a de olhar o “ser” para além do “estar”. Para Ele, o doente é alguém que “está” doente, mas não “é” doente, e por isso, vê como a pessoa é maior do que a doença, porque o seu ser está afectado mas não derrotado. Já repararam como a vida de Jesus e dos discípulos é um constante movimento? O que mais frequentemente diz aos que cura ou a quem perdoa é a palavra: “Vai”! A sua acção sanadora é apontar a vida como caminho a percorrer, como futuro a construir; ninguém é deixado em “becos sem saída”. Temos essa mesma paixão ou ainda utilizamos a culpa como “gaiola” que prende almas e vidas a erros passados? Aos fariseus, que se especializaram em fazer da vida “um inferno de regulamentos”, Jesus responde com o júbilo dos doentes e excluídos que se descobrem amados, curados e salvos!
Quantos “remédios” eficazes estão tão ao nosso alcance! Diz um amigo meu que, a algumas pessoas que o procuram, angustiadas ou zangadas com a vida, uma das terapias que sugere são longas caminhadas, descalças, na areia do mar ou na terra dos campos. Não imaginam logo Jesus com os discípulos à beira do lago? E que a caminhada pode terminar à volta de uma mesa em casa de Mateus, ou será à volta do altar, onde todos nos descobrimos sanados pelo Amor que deu a vida por nós e já não morre mais?
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