domingo, 1 de junho de 2008

Dia Mundial da Criança

À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves

DOMINGO IX DO TEMPO COMUM Ano A

“Ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.”

Mt 7, 25




Crianças especiais

Um grande poeta da nossa língua escreveu um dia que 'o melhor do mundo são as crianças.' E na constatação recente de que o nosso país tem já maior número de falecimentos do que de nascimentos, talvez, na ânsia de escolher 'o melhor' para nós, estejamos a errar o alvo. Claro que uma criança não é, nunca, um número ou um produto, e são preocupantes os dados de um recente estudo sobre 'a educação das crianças dos 0 aos 12 anos' que revelam a existência de 'uma grande taxa de pobreza infantil (cerca de 20%), crianças maltratadas, mal amadas, mal acolhidas pela escola.' Uma criança é o melhor do mundo porque nasce do amor e vem cheia de amor para dar!
Lembro-me de uma história de Anthony de Mello que interpela o nosso 'falar sobre as crianças': 'Três adultos tomavam um café na cozinha enquanto os filhos brincavam no chão. A conversa versava sobre o que fariam em caso de perigo e cada um disse que a primeira coisa a fazer seria pôr a salvo as crianças. De repente, rebentou a vávula de segurança da panela de pressão, e a cozinha encheu-se de vapor. Numa questão de segundos, todos estavam fora da cozinha... excepto as crianças que continuavam a brincar no chão.' Creio que o caminho não é só 'falar das crianças', é preciso 'falar com as crianças', e deixá-las falar do que sentem, pensam e vivem. É muito redutor julgar que as crianças só querem coisas; a maior parte das vezes querem-nos a nós, a nossa atenção, o nosso tempo, o nosso brincar com elas, as nossas histórias, os nossos sorrisos. Será que é isso que estamos dispostos a dar? São importantes algumas regras (como Moisés transmitiu ao povo no deserto) mas, depois, é preciso aprender com Jesus a alegria de construir. E aí não basta dar 'bons materiais', é fundamental encontrar a rocha da vida, a rocha que é o amor, a rocha que também é Jesus. Uma rocha que abre infinitas possibilidades à criatividade de cada construção, infinitas possibilidades para viver o amor e a alegria.
Às vezes pergunto-me se não andamos um pouco 'mal amados'. Muito sérios diante da gravidade das coisas e pouco deslumbrados com a 'gravidez da vida'. Muito preocupados em tornar a vida especial, quando a especialidade da vida é levar ao máximo o dom de amarmos. Quantas verdades podemos aprender com as crianças? E com aquelas que chamamos 'especiais' porque têm uma fragilidade ou limitação? Talvez nos tenhamos esquecido de quanto todos somos especiais. Como me lembraram o Fernando e a Eugénia, pais de uma criança especial: 'Por uma vez, há uns seres que nos obrigam a todos a sermos mais especiais. É isso que as torna tão especiais!'

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