Poderia Deus fazer um Universo diferente?
Por Nuno Crato
SEGUNDO UM RELATO do matemático Ernst Straus, Einstein dizia que o que realmente lhe interessava era «se Deus poderia ter criado o Universo de maneira diferente; por outras palavras, se a necessidade de simplicidade lógica lhe teria deixado alguma liberdade». Sabe-se que Einstein não era crente. Dizia que acreditava num Deus um pouco à maneira de Spinoza; acreditava que a natureza era regida por uma lógica. Não falava de uma divindade específica no sentido religioso tradicional. Numa carta recentemente descoberta, escrita em Janeiro de 1954, um ano antes da sua morte, tinha sido ainda mais claro: referia-se à ideia de Deus como sendo «um produto da fraqueza humana».
SEGUNDO UM RELATO do matemático Ernst Straus, Einstein dizia que o que realmente lhe interessava era «se Deus poderia ter criado o Universo de maneira diferente; por outras palavras, se a necessidade de simplicidade lógica lhe teria deixado alguma liberdade». Sabe-se que Einstein não era crente. Dizia que acreditava num Deus um pouco à maneira de Spinoza; acreditava que a natureza era regida por uma lógica. Não falava de uma divindade específica no sentido religioso tradicional. Numa carta recentemente descoberta, escrita em Janeiro de 1954, um ano antes da sua morte, tinha sido ainda mais claro: referia-se à ideia de Deus como sendo «um produto da fraqueza humana».
A concepção de Einstein, de traços panteístas, é partilhada por muitos profissionais da ciência. O grande físico acreditava numa realidade externa que a observação, a experimentação e a razão podem progressivamente assimilar. Via lógica nessa realidade. Nas suas Notas Autobiográficas (1946), repetiu-o: «Lá fora há este mundo imenso, que existe independentemente de nós, seres humanos, e que se ergue perante nós como um grande e eterno mistério, parcialmente acessível à nossa inspecção e pensamento».
Adoptando uma visão quase platónica, a unidade lógica do mundo físico existiria externamente. Não seríamos nós que daríamos sentido ao Universo. O sentido do Universo estaria à espera de ser descoberto. Naturalmente, esse sentido não era arbitrário. As leis físicas não podiam ser outras.
Einstein ficaria contente se pudesse conhecer alguns trabalhos de natureza matemática que, nos últimos tempos, têm vindo a tentar desenvolver a teoria da relatividade sem recurso ao célebre postulado da constância da velocidade da luz. Como se sabe, experiências muito rigorosas feitas no fim do século XIX não conseguiram detectar a mudança de velocidade da luz quando o observador se afasta e se aproxima da fonte luminosa. Muitos físicos procuraram explicações ad hoc para este fenómeno surpreendente. Einstein teve a ideia de postular que a velocidade da luz no vazio era uma constante universal e daí tirou um conjunto de conclusões revolucionárias sobre o espaço e o tempo que ainda hoje fascinam cientistas e leigos. Mas há mesmo algo de especial na luz, ou a relatividade deriva de algo de muito profundo na estrutura do espaço e do tempo?
Mitchell J. Feigenbaum, um físico-matemático da Universidade Rockefeller em Nova Iorque, acaba de mostrar (http://arxiv.org/abs/0806.1234) que todas as conclusões de Einstein se podem deduzir de princípios mais simples.
Feigenbaum volta a Galileu e ao seu célebre exemplo do navio em movimento. Dizia o físico italiano que, num mar sem ondas e dentro de um navio em movimento uniforme, um observador olharia para o cais e julgaria estar parado, sendo o cais a mover-se. Uma vez fechado na cabina, tudo se passaria como se o navio estivesse parado. Não lhe seria possível distinguir o repouso do movimento uniforme.
Estendendo este princípio de relatividade de Galileu com recurso a conceitos puramente matemáticos e esquecendo por completo a velocidade da luz, Feigenbaum redescobriu as chamadas transformações de Lorentz, que estão no cerne da relatividade de Einstein. Não é necessário atribuir um papel especial à velocidade da luz. Talvez, afinal, Deus não tivesse podido construir o Universo de outra maneira.
-«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 15 de Novembro de 2008 - adapt.
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