P. Vítor Gonçalves
DOMINGO DE PENTECOSTES Ano A (11/Maio)
'Ouvimo-los proclamar nas nossas línguas
as maravilhas de Deus.'
Act 2, 11
Metade da Humanidade
Mais do que uma vez, ao ensinar a uma criança o sinal da cruz, escutamo-la, entre o espanto e o sorriso, dizer enquanto faz o gesto: 'Em nome do Pai, e do Filho e... da mãe'! É verdade, custa muito a uma criança esta trindade onde a mãe não está, e se fala de Alguém a quem se chama Espírito! Tanto mais que irá descobrindo nessa presença maternal feita de cuidado e desafio muitos dos dinamismos próprios do Espírito Santo. Para lá do feminino em Deus, há também neste Pentecostes espaço para um olhar inesperado, uma surpresa que interpela?
Metade da Humanidade
Mais do que uma vez, ao ensinar a uma criança o sinal da cruz, escutamo-la, entre o espanto e o sorriso, dizer enquanto faz o gesto: 'Em nome do Pai, e do Filho e... da mãe'! É verdade, custa muito a uma criança esta trindade onde a mãe não está, e se fala de Alguém a quem se chama Espírito! Tanto mais que irá descobrindo nessa presença maternal feita de cuidado e desafio muitos dos dinamismos próprios do Espírito Santo. Para lá do feminino em Deus, há também neste Pentecostes espaço para um olhar inesperado, uma surpresa que interpela?
A espantosa fotografia de Augusto Brázio de uma 'mulher de 19 anos cujo terceiro filho acaba de nascer em casa' (Lisboa, Fevereiro de 2007), que ganhou o prémio de fotojornalismo de 2008, entra-nos pelos olhos e pelo coração dentro. O gesto frágil e sublime da vida que se acolhe naqueles braços não faz esquecer a realidade de pobreza e dependência que as desigualdades sociais vão criando, especialmente em bairros pobres das grandes cidades. Também nas imagens da fome e escassez de alimentos que vão correndo o mundo, já repararam como as mulheres, com filhos ou não, são as que mais aparecem a pedir um pouco de alimento? No viver de cada dia passa tantas vezes por elas este cuidado essencial e primeiro de dar de comer! E quando não há, quando uns esbanjam o que podia servir para tantos, como fica dorido o seu coração? Leio, como se recebesse um murro no estômago, um estudo das Nações Unidas citado por Matilde Sousa Franco: 'As mulheres são metade da Humanidade, realizam dois terços do trabalho, ganham dez por cento das receitas e têm um por cento dos bens' (Correio da Manhã). Quantos passos ainda tem o Espírito Santo de nos 'obrigar' a dar, quantos preconceitos e mentalidades a mudar, para que homem e mulher tenham uma mesma dignidade e um igual acesso aos bens do mundo?
Celebrar o Espírito Santo é celebrar a vida. O que ela já é, mas ainda mais, o que ela pode e quer vir a ser. Sem Ele instalamo-nos em leis e burocracias, justificamos a inércia e os privilégios só para alguns, declaramos como perfeito aquilo que ainda está a caminho. Com Ele recuperamos a alma e sorrimos mesmo nas dificuldades, gostamos dos outros e abrimo-nos ao diálogo, damos as mãos à surpresa e ao risco. Sem o Espírito Santo complicamos e ganhamos úlceras, com Ele apreciamos o que é novo e anunciamos o que é belo. Que pede o Espírito Santo ao mundo e à Igreja para esta 'metade da humanidade' que é a mulher? Como nos ouvimos e juntos crescemos a proclamar as maravilhas de Deus?
2 comentários:
Esta terra molda os sonhos
É feita de barro frio e duro
Amassado por rudes mãos
Ao compasso de coração puro
Bom fim de semana
Mágico beijo
Profeta,
Obrigada por mais um belíssimo poema. Parabéns!
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